quarta-feira, 30 de abril de 2014

Porto Velho

Para conhecer Porto Velho desde outro ponto de vista, o visitante conta com alguns mirantes, localizados na parte alta da cidade, com vistas parciais da região e do Rio Madeira
Porto Velho, nostálgica e multicultural, é a terceira cidade mais rica do Brasil amazônico

É coisa rara encontrar um morador da terceira maior cidade do norte brasileiro que seja natural daquelas distantes e desconhecidas terras amazônicas. Enquanto alguns, discretos, vão chegando do nordeste para entender a rica variedade de peixes encontrados naquele labirinto de igapós e igarapés, outros deixaram, há décadas, as ricas regiões sul e sudeste para descobrir novas riquezas. Até quem diz que é rondoniense se contradiz quando começa a lembrar o passado da família. Os pais são de Brasília, mas também carrega no sangue histórias de sotaques mineiro e goiano.

Os sabores tão pouco são locais e a gastronomia regional até tomou emprestado pratos famosos do Pará e da Bahia, como o tacacá e o vatapá. E assim, Porto Velho, capital de um dos estados mais novos do Brasil, vai fazendo jus à fama de ser a "cidade de todos", literalmente.

Fundada no início do século passado, estimulada pela construção da polêmica Estrada Ferroviária Madeira-Mamoré, o destino ainda engatinha no setor turístico e oferece pouco para quem vem das grandes capitais do país.

Porto Velho parece ter sido refém do tempo e gosta mesmo de ser nostálgica. Seu principal produto repousa, adormecido, sobre os trilhos e vagões abandonados da famosa estrada ferroviária, mesmo que pouco daquela época possa ser visitado. Conhecida como Ferrovia do Diabo, por conta do número elevado de trabalhadores que morreram durante a construção dos seus 366 km de extensão, essa estrada foi construída, entre 1907 e 1912, para ligar a cidade à Guajará-Mirim, e escoar a borracha extraída na região.

Aquela obra, de proporções exageradas para a época, chegou a contar com o esforço de 20 mil trabalhadores caribenhos, norte-americanos e europeus. Mas o que ninguém havia comentado era que, a mesma região que proporcionava novas oportunidades de trabalho, oferecia também um
cenário adverso que incluía perigosas cachoeiras, o risco de contrair doenças tropicais, como a malária, e até violentos ataques de índios locais.

Parecia mesmo coisa de cinema. Porto Velho ainda não ganhou as telonas, mas a região já foi tema da minissérie "Mad Maria", produção global, de 2005, ambientada nos difíceis anos da construção da Estrada Ferroviária Madeira-Mamoré.

Atualmente, pouco daquela época se encontra disponível para os visitantes, mas o que mantém viva aquela construção ainda é o valor sentimental que esse capítulo da história brasileira exerce sobre a população local.

A saída foi se reinventar e criar curiosos pontos turísticos para uma cidade que atrai, sobretudo, turistas dos estados vizinhos e profissionais de todo o Brasil que, desde a época do fim do ciclo da borracha, chegam a esse centro urbano de quase 400 mil habitantes em busca de novas oportunidades de trabalho.

Porto Velho abriga um cemitério de trens (e dá-lhe nostalgia outra vez), é sede de um museu com um acervo de quase três mil peças de presépios trazidos de todas as partes do planeta, e tem como símbolo, estampado até no brasão e na bandeira da cidade, três imensas caixas d'água, conhecidas como "As Três Marias".

Já os cenários naturais guardam belezas escondidas, literalmente, como a impressionante região do Cuniã, cujo acesso continua fechado para a visitação pública; e outras que, em breve, devem desaparecer, como a cachoeira do Santo Antônio que será submersa com a construção da hidrelétrica que está sendo erguida às margens do Rio Madeira, outra atração local.

Diz a lenda que no fundo do lago do Cuniã repousa uma índia que fugiu das armadilhas do homem branco e se transformou em uma cobra grande. Acredita-se que quando Cuniã resolver deixar aquelas águas, o lago secará e junto com a bela e guerreira indígena irá toda a riqueza da região.

Enquanto isso não acontecer, resta ao visitante sentar-se para ouvir as histórias nostálgicas daquela gente. Mesmo que sejam contadas com outros sotaques.

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