terça-feira, 29 de abril de 2014

Chapada Diamantina

Mônica A. de Souza/UOL
Vista do mirante do Morro do Pai Inácio

Chapada Diamantina tem passeios de aventura, esportes radicais e uma paisagem de beleza gigante

Os pés ganham bolhas, o curativo cai com o suor, a água potável está no fim e não há banheiro nas proximidades. Mesmo assim, a serotonina está em festa. Nas trilhas da Chapada Diamantina, os probleminhas domésticos diminuem de tamanho diante da beleza da paisagem.
 
Formada por 57 municípios no sertão da Bahia, a região atrai visitantes com uma combinação de temperaturas avessas (o frio serrano à noite e o calor dos passeios sob o sol) e turismo de aventura. O garimpo mecanizado foi proibido em 1996, e desde então o poder público e os moradores apostam em "novas" fontes de renda: a visitação a cavernas, grutas, rios, cachoeiras, morros e trilhas cravados na rocha há séculos.
 
Dicas de sobrevivência? Vá com calma nas trilhas, comece pelas mais fáceis até pegar o ritmo de longas caminhadas. E não se constranja de parar tudo para assistir ao espetáculo das bromélias vermelhas na pedra. Milhões destas flores nascem e morrem no sertão brasileiro para ninguém ver.
 
O ET das Paridas
Uma prova da constante revitalização da geografia ancestral da Chapada é a Serra das Paridas, um sítio arqueológico que entrou no roteiro turístico no início de 2007. Quem descobriu o extenso corredor de pinturas rupestres localizado a 36 km de Lençóis foram catadores de mangaba, após um incêndio ter destruído a vegetação sobre as rochas.
 
No sítio, acompanhado de um guia da Associação dos Condutores, o visitante percorre paredões de figuras coloridas que lembram mamíferos, peixes, pássaros, mulheres em posição de parto de cócoras e, ao final, uma pintura de duas partes, anunciada pelo guia como "fenomenal". A figura lembra os contornos da imagem clássica de um extraterrestre, o pescoço longo, a cabeça grande e projetada, dois olhos abertos e apenas três dedos nas mãos.
 
Ajuda a complementar o espanto a localização de uma esfera com furos (uma nave espacial?) logo acima da cabeça. Pensar que alienígenas integraram o imaginário de populações ancestrais na Bahia a ponto de serem reproduzidos cuidadosamente em linguagem não-verbal funciona como incentivo para conhecer aquela região onde vários séculos e milênios parecem convergir.
 
Belezas sempre vivas
Se Lençóis mira as pedras, em Mucugê, vizinha importante no roteiro da Chapada, os destaques são o conjunto arquitetônico da cidade e o Parque Municipal, que representam o que há de melhor em termos de atrativos nesta região com forte legado histórico do coronelismo e do Ciclo do Diamante. Lá estão o Projeto Sempre Viva e o Museu Vivo do Garimpo. Entre os atrativos naturais estão as cachoeiras das Piabinhas e Tiburtino, alcançadas por trilhas interpretativas.
 
"Já houve quem chegasse aqui e dissesse que o filme se passa na fronteira da Bahia com o Casaquistão." A frase é do cineasta Walter Salles, que escolheu vilarejos do Sertão da Chapada, uma área entre a Chapada e o Vale do Rio São Francisco, para cenários do seu filme "Abril Despedaçado". Em Mucugê, a equipe filmou os túmulos do cemitério bizantino. Rio de Contas, com seu Pico das Almas para escalar, foi outro ponto de locação.
 
Vale do Capão
A 70 km de Lençóis, o Vale do Capão, distrito de Palmeiras, parece fazer fronteira não com os russos da Ásia central, mas com os festeiros de Woodstock. É praticamente uma comunidade alternativa instalada nas bordas do Parque Nacional da Chapada Diamantina.
 
Quem chega até lá costuma buscar a aventura de subir o morro da Cachoeira da Fumaça e percorrer as longas trilhas do Vale do Paty. Donos de pousadas vêm incentivando o turismo que promove a saúde, com oferta de fitoterapia, massoterapia, saunas indígenas de purificação, banhos de argila e medicina holística. Tudo muito zen. Os corpos exaustos de subir e descer morro agradecem.

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